domingo, 24 de agosto de 2008

A FÉ QUE OPERA e o SÁBADO

As duas primeiras curas realizadas por Jesus e relatadas pelo evangelista João, trazem um ponto comum muito importante. Em ambos os casos, a cura não foi operada conforme, os que dela necessitavam, esperavam. Isto é, o milagre não aconteceu conforme a fé deles, mas sim conforme a fé de Cristo. Isso nos leva a entender que mais do que ter fé EM Cristo, precisamos receber a fé DE Cristo. Pois o limiar de nossa fé jamais delimitou, nem jamais delimitará o agir de Deus sobre nós. Mesmo que, em algumas circunstâncias, Jesus tenha dito que foi a fé da pessoa que a salvou, Ele jamais ficou dependente de tal fé para operar o que quisesse. Até porque se a pessoa teve alguma fé, tal fé foi concedida pelo próprio Senhor Jesus mediante seu próprio Espírito, pois a fé é um dom de Deus. Assim, se Deus nos exige fé, antes nos concede a fé exigida.

Muitas igrejas concentram seus esforços no princípio de fazer com que seus seguidores exercitem sua fé EM Cristo. Para isso promovem campanhas onde usam de objetos, amuletos, votos, sacrifícios, concentrando o princípio da fé nas mãos dos homens em lugar das mãos de Deus. No entanto, o verdadeiro milagre tem muito mais haver com a fé DE Cristo, do que com a fé EM Cristo. Graças a Deus, por isso! Afinal, as pessoas que mais necessitam de um milagre, são exatamente aqueles que menos tem forças pra crer. Assim veremos nos casos a seguir:

No primeiro episódio Jesus estava em Cana da Galiléia, quando um oficial do rei, cujo filho estava doente, pediu a Jesus que fosse até Cafarnaum curar seu filho. Ao contrário do que este esperava, Jesus tão somente disse que seu filho já estava curado. Ao descer à Cafarnaum os servos do oficial vieram-lhe ao seu encontro, dizendo-lhe que seu filho vivia, e constatou que a febre o havia deixado no exato momento em que Jesus lhe havia dito: “vai, teu filho vive”.

Jesus viveu em meio a um povo que dependia de sinais palpáveis e tangíveis para crer e exercer a fé. Por isso aquele homem esperava um toque físico de Jesus em seu filho enfermo, para curá-lo. Ao que Jesus fez uma severa crítica, relatando a necessidade de sinais, que aquelas pessoas tinham para, só então, crer. Jesus estava mostrando que, por meio dEle, um novo tempo estava sendo instituído, onde sua palavra seria o modus operandi da fé. Isto é, o milagre não necessitaria mais da crença ritualista, do toque, do visível, do palpável, como era até então, onde toda fé era visualizada e mensurada nos costumes e leis cerimoniais. Neste novo tempo, instituído por Cristo, crer em Sua Palavra é tudo o que precisamos para ver a glória de Deus.

No segundo episódio, um homem paralítico esperava, há 38 anos, a chance de ser o primeiro a lançar-se nas águas do tanque chamado Betesda, quando estas fossem agitadas pelo anjo que as agitava de ano em ano. Qualquer pessoa que mergulhasse primeiro nestas águas quando eram agitadas, era curada de qualquer enfermidade. Este episódio, além de relatar a cura proveniente de Deus, relata uma figuração de Cristo, pois a água prefigurava Jesus, o Verbo encarnado de Deus, a Palavra Viva; o anjo prefigurava o filho de Deus vindo do céu, batizador com Espírito Santo. É no mover do Espírito de Deus sobre sua Palavra que recebemos vida espiritual, regeneração, restauração e cura.

O que mais me chama a atenção neste texto é que o homem tinha, de um lado, o tanque que simbolizava Jesus e, do outro lado, o próprio Jesus. Quando Jesus lhe pergunta se queria ser curado, o homem reclama a falta de ajuda para ser lançado ao tanque. Ah! Se ele soubesse com quem estava falando, a resposta certamente seria outra! Ele estava diante do próprio Cristo e ainda assim depositava sua confiança naquilo que tão somente simbolizava Cristo. O não conhecer Jesus faz com que muita gente, ainda hoje, se porte da mesma maneira.

Fico impressionado com a forma como as igrejas ditas cristãs usam e abusam das figuras, imagens e símbolos em seus rituais de orações, curas e prosperidade. Aliás, existe óleo para cada tipo de milagre desejado, sacrifícios para cada bênção a ser alcançada, objeto “ungido” para cada mal a ser “exorcizado”. E o pior é que muitos desses objetos, artefatos, relíquias, rituais ou sacrifícios nem sequer são figuras de Jesus. Se conhecessem a Jesus verdadeiro não precisariam depositar sua fé nesses amuletos. Abandonariam essas práticas que tão somente configuram verdadeira feitiçaria* e outras vezes vodu*. (* confira o glossário)

Tais atos e figuras simbólicas são perfeitamente compreensíveis quando analisados na perspectiva de quem vivia em um tempo em que Cristo ainda não havia sido manifesto aos homens. Assim, tais figuras e rituais serviam de sinal e anelo que apontavam Cristo, afim de que Cristo, ao vir, fosse reconhecido pelos seus. Uma vez que Cristo tenha vindo, morrido e ressuscitado, que esteja entre nós, e nós o tenhamos reconhecido e vivamos nEle, não precisamos mais de sinais, ou sombras, pois temos o próprio do qual os sinais figuravam. Não se precisa das placas que indicam o caminho, depois que já se chegou ao destino. Assim, não precisamos das sombras se já temos Cristo.

Da mesma forma deve ser compreendida a questão da guarda do sábado que, não por acaso, é abordada nesse mesmo texto e contexto, onde não só Jesus a quebrou, curando nesse dia, como ordenou ao paralítico quebrá-la, carregando sua cama. Tal quebra não se trata de insubordinação ao mandamento divino, mas sim de que já havia cumprido seu propósito, pois sua finalidade era apontar para Cristo. Paulo Afirmou que os sábados eram sombras do que havia de vir, sendo que o que havia de vir era Cristo. Portanto, o sábado simbolizava Cristo, em quem encontramos refrigério e descanso. Uma vez que tenhamos o próprio Cristo em nossa vida, não é coerente continuarmos com os olhos fitos na sombra.

“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17).

Minha oração é para que o Senhor nos faça compreender a sua graça, vivendo pela fé, a fé DE Cristo, que nos é dada por meio de sua Palavra vivificada pelo Santo Espírito. Afim de que possamos dizer: Tua graça me basta, Senhor!



Rev. Julio Fernandes
REINA - SC
www.igrejareinasc.blogspot.com


Glossário (segundo Freud em Totem e Tabu)
Feitiçaria – Rituais representativos que visam manipular a ação dos deuses.
Vodu – Rituais representativos que visam manipular a ação e vida das pessoas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O BOM CAMINHO, UMA ÓTIMA RECOMPENSA


No capítulo 20 do Evangelho segundo São Mateus, Jesus conta a parábola do senhor que contratou vários trabalhadores para trabalharem em sua vinha, uns logo ao iniciar o dia, outros às nove da manhã, outros ao meio dia, três da tarde e por derradeiro contratou alguns perto das cinco. Ao acertar as contas, pagou o mesmo valor, tanto ao que trabalhara o dia inteiro, quanto ao que trabalhara apenas uma hora.

Tal qual a reclamação dos que trabalharam mais, neste episódio, é a reclamação de muitos, que se consideram justos, nos dias de hoje. Estes afirmam que é injusto, da parte de Deus, acolher em seus braços aquele que se arrependeu de suas más obras no último instante de sua vida, a exemplo de um dos ladrões na cruz ao lado da cruz de Jesus, que sem ter feito qualquer boa obra recebeu o paraíso, tal qual uma pessoa que viveu dedicando toda a sua vida à caridade em Cristo.

A resposta que encontramos no relato do evangelista Mateus ainda serve os nossos dias: “por acaso não tenho o direito de fazer o que quero daquilo que é meu?”.

Ora, a Bíblia diz que a salvação pertence ao Senhor. Não pode, Ele, dá-la a quem quiser? Se Ele salva o sujeito mal no último segundo, não deveríamos ficar felizes com isso?

Além do mais, ninguém deveria se sentir injustiçado por dedicar a vida inteira a Deus e receber o mesmo soldo de quem só se lembrou dEle aos 45 do segundo tempo da prorrogação. Ninguém deveria ter inveja deste. Afinal, este pobre coitado passou a vida sem ter tido a felicidade de ser um bom sujeito.

Muita gente acha que fazer o bem é um sacrifício penoso que o torna merecedor do paraíso. Que engano! Não há nada mais prazeroso que servir o Reino de Deus e sua justiça. Não deixe pra amanhã, entregue-se a Cristo hoje, converta-se de seus maus caminhos. A recompensa começa aqui mesmo, na simples satisfação de viver o bom caminho e trabalhar nele desde cedo, carregando nossa cruz e seguindo o Mestre.



Por Pr. Julio Fernandes
Igreja REINA - SC

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

PALAVRAS, MORTAS, OU ETERNAS?

“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10:28).

“kai mh fobhqhte apo twn apokteinontwn to swma thn de yuchn mh dunamenwn apokteinai fobhqhte de mallon ton dunamenon kai yuchn kai swma apolesai en geennh”. (texto original grego)

Quando Jesus disse estas palavras, Ele bem sabia a dimensão exata do que isso representava para os seus discípulos. Afinal, o Filho de Deus se fez homem, assumindo e vivendo na própria carne todas as emoções e sentimentos que um ser humano pode viver, e o viveu intensamente, até seu último suspiro. Certamente, Ele não se referia unicamente à morte do corpo em si, mas de tudo quanto o corpo (do grego swma) representa. E representa todo universo físico, palpável e mensurável, que norteia a vida. Do mesmo modo, Jesus não só fez menção aos assassinos, mas também àqueles que podem nos trair, roubar, caluniar ou ferir o coração. Assim, não temer “os que matam o corpo” é estar disposto a continuar lutando, mesmo que se perca tudo na vida. Pois, infelizmente, é nessa hora que muitos morrem, mesmo continuando a respirar.

Tradicionalmente, a palavra yuchn é traduzida como alma, o que traz à maioria das pessoas a concepção de um “fantasma” ou um ser espiritual que habita um corpo sem necessariamente depender do corpo para sua existência. Sem querer abordar os méritos ou deméritos das teorias antropológicas religiosas, quero trazer a luz o fato de que yuchn ou psushe tem sua conotação direta com mente e assim podemos relacioná-la aos pensamentos, ideais, conhecimentos, ensinamentos, fé, sabedoria. E é dentro dessa raiz que queremos nos ater, pois acreditamos piamente que essa é a essência do que Cristo estava tratando neste texto.

A análise contextual nos mostra que Cristo estava incentivando aos seus discípulos a proclamarem sua fé, aquilo que aprenderam de Cristo e conseqüentemente criam. A verdade é que eles receberam de Cristo um conhecimento sem precedentes, e seus pensamentos estavam sendo forjados pelo fogo do qual nenhum homem havia provado até então. Assim estava se formando a psique dos Apóstolos. Por certo, não podia, uma psique tão preciosa morrer com os discípulos. Era preciso proclamá-la aos quatro ventos. Mais tarde Jesus diria: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura". Dessa psique, os ensinamentos de Jesus, ainda hoje, depende a transformação do mundo.

As idéias, os pensamentos, as palavras, os conhecimentos, enfim a psique morre com seus portadores quando não é proclamada. E diante dessa perspectiva quero dizer que podem roubar-nos os bens, ferirem-nos o coração, trair-nos deliberadamente, podem até matar-nos o corpo, mas não poderão destruir nosso conhecimento adquirido e transmitido, seja por artigos, livros, pregações, discipulado, conversas e músicas. Não poderão apagar do coração dos que nos ouvem, toda psique transmitida.

Outro fator importante é a compreensão etimológica da palavra inferno, aqui traduzida do original geennh, uma palavra grega usada para referir-se ao vale de Tofete, um grande e conhecido cemitério onde muitas vezes foram realizados sacrifícios de inocentes. A palavra geennh é citada onze vezes, no Novo Testamento, sempre por Jesus, para aludir a morte eterna ou castigo sobre Israel. No caso deste texto, o termo inferno não se refere a um lugar metafísico, assim como o termo alma não se refere a um “ser” metafísico. Jesus referiu-se a geennh como o destino do corpo sem vida, isto é, cemitério. Lugar para onde a psique vai junto de seu portador, quando este a guarda para si e não a anuncia aos outros.

Analisando as palavras de Cristo, me pergunto: O que poderia “fazer perecer no inferno tanto o corpo, quanto a alma”? Simples: O desânimo, o desistir, a timidez. Enfim, o que faz calar, o que intimida, acovarda, que faz morrer os ideais, esmorecer a fé, matar a psique. Não é à toa que Apocalipse 21:8 afirma que os tímidos (ou covardes) morrerão eternamente.

A história nos ensina que grandes homens são aqueles que desafiaram o morno, o normal, a rotina e não omitiram o conhecimento que receberam, não desistiram de lutar pelo que acreditavam, não se intimidaram frente às dificuldades, não traíram a Deus nem à própria consciência. Os grandes homens ousaram falar, mesmo sabendo que seriam criticados e escarnecidos, proclamaram a verdade, mesmo que sua cabeça estivesse em jogo. Não foi por acaso que João Batista, um homem a quem não se atribui nenhum milagre, foi, segundo Jesus, o maior dos profetas. Por quê? Porque não se intimidou frente às ameaças, mas proclamou o tempo de conversão e por isso foi morto. Mataram seu corpo, mas sua voz continua clamando pelos desertos; seu corpo pereceu, mas sua psique vive ainda hoje, gerando frutos para a eternidade.

Nossa passagem nessa terra pode ser insignificante ou transformadora. Tudo depende de como nos portamos diante da própria fé. A morte do corpo é destino certo para todos, mas uma psique forjada no fogo do Espírito de Deus, transformada pelo Evangelho de Cristo e transmitida aos homens e mulheres de todos os povos, é a arma poderosa para transformar este mundo. A Palavra de Jesus é Palavra de Vida, é a Palavra que cremos e anunciamos. Não a levemos para a sepultura, anunciemo-la, eternizemo-la.



Rev. Julio Zamparetti Fernandes
Sermão dominical de 03/08/2008
REINA – Igreja do Futuro