segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Provar a Deus?

“Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas mordeduras das serpentes” (I Coríntios 10:9).

No texto acima, o Apóstolo Paulo faz referência ao povo de Israel, conforme descrito no livro de Números 21:4-6 – “Então, partiram do monte Hor, pelo caminho do mar Vermelho, a rodear a terra de Edom, porém o povo se tornou impaciente no caminho. E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil. Então, o SENHOR mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel”.

O primeiro pecado que nos vem à mente, ao lermos este texto, é o pecado da murmuração. Todavia, quando Paulo citou este fato, ele não estava se referindo ao pecado de murmuração. Isso porque a murmuração, neste caso, tinha um objetivo, o de tentar a Deus. Queriam, por meio de murmurações, constranger Moisés e seu Deus. Eles achavam que constrangendo-os, Moisés oraria a Deus que, por sua vez, responderia de forma consoante ao desejo popular. O que eles não sabiam é que este caminho lhes geraria somente morte.

Se o povo foi impaciente naquele tempo, quanto mais nós, nos dias de hoje! Num tempo em que tudo é infinitamente mais rápido, em que temos comunicação áudio-visual em tempo real com qualquer parte do planeta, transportes velocíssimos, soluções rápidas, tudo o que não se quer ouvir falar é sobre “paciência” e “espera”. É exatamente nesse ponto em que os que se dizem “igreja de Cristo” mais bebem o cálice dos demônios. Assim como no mundo secular, os crentes vivem querendo tudo “pra ontem”. A partir daí, surgem inúmeras fórmulas de sucesso, campanhas milagrosas, sacrifícios poderosos que prometem sucesso rápido para o aqui-e-agora-se-possível-ontem. No afã da conquista do “milagre” querem “provar a Deus”, “colocar Deus contra a parede”, “pegar Deus pela Palavra”, “ordenar”, “reivindicar”, “se revoltar”, “exigir”, “provocar o milagre”. Assenhoriam-se de Deus, tornam-O seu servo. Vale tudo pela “bênção”, só não dá pra esperar.

O que eles não se dão conta é que a fé só se prova na esperança, pois ninguém espera pelo que não crê. Quando nos negamos a esperar em Deus, negamos a fé e assumimos, logo, o caráter de reivindicadores, como se Deus nos devesse alguma coisa, ou como se tivéssemos, em nós mesmos, algum mérito que não adviesse unicamente da graça de Cristo. E se pela graça de Cristo é que somos bem-aventurados, não pode, então, ser pelo mérito humano, pois se fosse por mérito humano, a bênção divina já não seria graça, e sim, “débito” de Cristo. O grande mal é que não confiamos em Deus o suficiente para descansarmos nEle. Nossa tendência é pensar que somente nós sabemos o que é melhor para nós mesmos. Então, por vezes, ainda que inconscientemente, oramos a Deus para que “seja feita a sua vontade, contanto que a sua vontade seja exatamente igual a nossa”. O pior é que, muitas vezes, sequer queremos saber qual a vontade de Deus, e de forma alguma aceitamos nos sujeitar a ela, pois temos medo do que ela pode nos revelar. Isso porque, realmente, não confiamos em Deus. E se não confiamos em Deus, resta-nos apenas confiar nas “teologias terrenas”[1] daqueles que querem condicionar Deus as suas próprias vontades carnais. O único problema é que nessas “teologias terrenas” não há vida alguma.

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1. Sobre “teologia da terra”, recomendo a leitura do livro “Enigma da graça” de Caio Fábio.


“Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os principais sacerdotes, propôs: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata” (Mateus 26:14-15).

Judas é o maior exemplo de quem não soube esperar em Deus, e não soube esperar, simplesmente porque não entendeu o que era o Reino de Cristo. Antes de atirarmos pedras em Judas (o que é desnecessário, já que ele morreu arrebentado entre pedras[1]), precisamos compreender o que levou Judas a trair Jesus.

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1. Atos 1:18 – “Ora, este homem adquiriu um campo com o preço da iniqüidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram”



Judas não traiu Jesus por dinheiro


“Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os principais sacerdotes, propôs: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata”
(Mateus 26:14-15).

Observe que Judas não impôs nada, apenas se comprometeu a entregar Jesus por qualquer coisa que os sacerdotes quisessem lhe dar. Judas não estava interessado naquele dinheiro. Uma moeda de prata, ou uma dracma, como era chamada, era uma moeda grega, e tinha quase o mesmo valor de um denário romano. O Denário, algumas vezes traduzido como dinheiro, era a principal moeda romana de prata, geralmente, era o salário de um dia de trabalho de um homem[1]. Logo, Judas recebeu o equivalente a um mês de trabalho. Ora! Que falta de ambição a de Judas! Entregar o Filho de Deus por um salário mínimo! Definitivamente Judas não traiu Jesus por dinheiro, pois certamente lucrava muito mais roubando da bolsa de Jesus[2], que era abonada pelos bens de mulheres generosas[3], do que lucrou entregando-o aos sacerdotes.

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1. Dicionário Bíblico Universal, Buckland. São Paulo, SP. Editora Vida, 2000.
2. João 12:6 – “Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava”.
3. Lucas 8:2-3 – “e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens”.


Para entendermos o porquê da traição de Judas, precisamos compreender o contexto político da época. Veja o relato de Coleman[1]:

Os judeus aguardavam ansiosamente um libertador que restauraria a nação aos dias de glória vividos quando dos reinados de Davi e Salomão. Desde então já se havia passado mil anos, e eles tinham enfrentado divisões, exílio e ocupações. Mas muitos aguardavam firmemente o cumprimento das promessas das escrituras, esperando o Messias com ansiedade. (...) A esperança da vinda do Messias nunca estivera mais aguçada do que na época em que Jesus esteve na terra. E houve pelo menos uma ocasião em que o povo quis agarrá-lo a força e coroa-lo rei (João 6:16).

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1. Coleman, William. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos. Belo Horizonte, MG. Editora Betânia, 1991.


Assim como os outros judeus, Judas desejava a restauração do governo a Israel. Ao ver a fama de Jesus e o grande número de pessoas que o seguiam, Judas não teve dúvida de que Jesus poderia ser coroado Rei, então se viu envolvido pelo mesmo sentimento que muitos, ainda hoje e principalmente hoje, se envolvem: o desejo pelo poder, ainda que por meio de outrem. Este desejo tem manchado a igreja em sua estrutura eclesiástica, pois historicamente, Igreja e Estado nunca foi uma boa mistura. Como prova disto há muitos casos, mas por hora basta lembrar que a grande vergonha do catolicismo – a “Santa Inquisição” – só foi possível por causa de seu poder político; Também Calvino, se não tivesse misturado o seu ministério à política, em Genebra, não teria cometido a maior vergonha de sua carreira, condenando Michael Servetus a ser queimado na fogueira, no dia 27 de outubro de 1553, sob acusação de propagar heresia1. Nesse entremeio, de tempos em tempos surgem novas “fórmulas mágicas” de conversão em massa que ainda que, a princípio seja bem intencionado, ao final, o interesse pelas massas, torna-se estritamente político. E nesse momento já não há limites para os intentos do homem, tal qual foi em Babel2. Judas também havia perdido o sentido ministerial pelo qual Cristo o havia chamado, estava demonizado – no mais literal sentido da palavra “elilin”, pois estava “oco”, ou seja, completamente vazio da luz de Cristo. Seu intento, agora, era meramente político3. Pensava que se entregasse Jesus aos seus opositores, diante da ameaça de morte, certamente Jesus se veria pressionado, conclamaria o povo para si e instituiria seu reino sobre Israel. O arrependimento de Judas se deu, exatamente, porque nada do que ele esperava aconteceu, pois Jesus não é do tipo que sede a pressões.

A “teologia” dos pregadores que afirmam que Deus nos responde quando o pressionamos pondo-lhe a prova, é falha, pois é humana, é teologia de Judas, portanto, é diabólica4. Quem dela bebe, bebe do cálice de demônios.

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1. Ronald Wallace. Calvino, Genebra e a reforma. 2003, Editora Cultura Cristã.
2. Gênesis 11:6-8 – “e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro. Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade”.
3. Neste aspecto, os intentos que permeiam os homens de hoje é pior que o de Judas, pois, ao menos, o de Judas era patriótico; o dos homens de hoje é egocêntrico.
4. João 6:70 – “Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo”.

2 comentários:

Unknown disse...

Não existe nenhuma evidência que deus existe.

Anônimo disse...

Para onde você olha vai ver a prova que DEUS existe, você sabe o dia que nasceu mas o dia que vai morrer, não sabê somente DEUS sabe todas as coisas.